UM POUCO MAIS DE PACIÊNCIA
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...
Vivemos o tempo da pressa. Temos
pressa da felicidade, que é buscada instantaneamente na destruidora busca do
prazer fácil, do gozo vendido a granel nas lojas, nos shopping centers, nas
boates e em qualquer lugar onde a oferta seja generosa. Temos pressa do futuro,
e os jovens vivem a ânsia agoniada do sucesso profissional a todo custo na
perda de identidade nos bancos dos colégios e das faculdades. As crianças vivem
uma infância inócua, vazia de sentido e de delicadeza, porque aprendem que, no
mundo estranho em que vivem, é melhor crescer do que ficar para trás. Temos
pressa do tempo, e nos acostumamos a obras inacabadas porque já não há mais
tempo a realizá-las a contento. E nos apetece agora o medíocre, o meramente
satisfatório, aquilo que é regular. Temos pressa de vida, e o culto ao corpo
nos ensina que envelhecer é doença e que a vida saudável é algo imperativo, determinante,
sem a qual nos tornamos marginalizados. Temos pressa das pessoas, e os
relacionamentos se pautam pelos sentimentos descartáveis, em que os outros se
coisificam aos nossos olhos e valem, como objetos, por aquilo que nos
proporcionam.
Não há ditado mais certo do que
aquele que prega que a pressa é inimiga da perfeição. Um mundo que é medido
cegamente pelos ponteiros do relógio não se constrói verdadeiramente, porque
tudo e todos tem o tempo certo de nascer, crescer e amadurecer. As pessoas não
se tornam realmente pessoas enquanto não vivenciarem plenamente as diversas
fases de suas vidas e o processo lento de amadurecimento que é necessário para
que elas se tornem quem são. Vivenciando a pressa, tornam-se presas de modelos
pré-estabelecidos e se arruínam em seguir fórmulas de vida e de felicidade que
não cabem na estatura de suas personalidades. Da mesma maneira, deixam de
perder tempo com os outros e deixam escapar a oportunidade de enxergar neles a
riqueza que falta em si mesmos. Esquecem que os relacionamentos existem para
que haja essa reciprocidade, e aprendem somente a usufruir, a sugar o que os
outros tem para um egoístico bem-estar. A pressa nos impede de sermos aquilo
para o qual fomos criados para ser, porque nos impede de enxergar a lenta,
detalhada e maravilhosa ação de Deus na formação de nossa personalidade.
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...
Deus age na calma, com paciência.
Ele tem seu próprio tempo de ação e nos convida a, junto com Ele,
construirmo-nos a nós mesmos, formando cada parte de nós na perspectiva da
nossa felicidade, da qual Ele é fonte e finalidade. Recusar o mundo requer que
tenhamos o tempo de Deus em nós, requer a tranqüilidade de sabermos a nossa dignidade
de filhos de Deus, e não meros escravos do tempo e da história. Estamos e
vivemos na história de nosso tempo, mas somos chamados a suplantá-la e transformá-la
como resposta ao convite de conversão que nos faz Jesus. É necessário termos
olhos atentos para a realidade, mas a mão nas mãos de Deus, para que Ele nos
guie para além das coisas que, apressada e desarrazoadamente, passam.
Os santos souberam o tempo de Deus
e viveram segundo essa perspectiva. Não se tornaram pessoas prontas
apressadamente, mas deixaram que Deus a formasse em Seu tempo próprio, anelando
sempre serem barro nas mãos do Oleiro, no qual Ele formaria homens e mulheres
novos, faróis para uma humanidade decaída e destruída. Pacientemente,
perceberam que o futuro é construído dos pequenos passos do presente e que nada
é feito com respostas prontas e com conceitos rapidamente fechados. Deus
trabalha com homens que se deixam modelar, que se deixam construir em todas as
suas dimensões: afetiva, sexual, vocacional, familiar etc. Caso contrário, o
homem constrói-se a si mesmo, e porque não pode e nem sabe fazê-lo, deixa
entrever as suas fragilidades em tudo o que faz – no trabalho, nas amizades, no
matrimônio, na vida social – e, ao invés de concretizar seu futuro, destrói a
própria personalidade e a daqueles que estão ao seu redor.
Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
O tempo existe para nós, para
nosso uso. Não é nosso soberano, mas nos serve para nossa felicidade e
organização. Baseamo-nos nele para nos programarmos tendo em vista o que falta
em nós, o que falta para sermos e vivermos plenamente. Devemos aproveitá-lo
incessantemente a fim de que, em cada oportunidade a que nos damos e que tem
nele a sua medida, possa utilizá-lo para crescermos cada vez mais. Aproveitar o
tempo da nossa formação pessoal para aprendermos o que realmente é essencial
para nós; aproveitar o tempo da nossa família, para que saibamos que o amor de
Deus se revela em uma fonte muito concreta e que é basilar para nosso
crescimento interior; aproveitar o tempo da natureza, a fim de que enxerguemos
o amor de Deus nas valiosas manifestações da criação; aproveitar o tempo dos
nossos relacionamentos, a fim de descobrirmos nos outros, não adversários pelas
riquezas e pelo bem-estar encontrados nas coisas e nas oportunidades, mas
irmãos que nos auxiliam a viver a vida na comunhão que é própria da Trindade;
e, por fim, aproveitarmos o tempo de Deus, que age para termos o Céu em nossas vidas,
e não buscarmos em nós mesmos e na obra de nossas mãos o segredo para a nossa
salvação. Dessa maneira, fala-nos o Livro do Eclesiástico: “Meu filho, aproveita-te do tempo, evita o mal” (4,23).
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...
É Deus que tem a medida do tempo
necessário para a maturação da nossa vida. Deixar tudo ao Seu tempo é prova da
nossa confiança na Sua ação misericordiosa. Nós, Seus filhos, somos chamados a
entregar tudo o que somos e temos nas Suas mãos, a fim de que, ao seu tempo –
que é o tempo certo e fecundo da nossa felicidade e salvação – Cristo possa
colher frutos em nós. A nossa fecundidade depende da obediência a este tempo de
maturação, em que Deus forma em nós uma personalidade sadia e corajosa, capaz
de tomar pulso do tempo divino e aplicá-lo, pelo testemunho de nossa vida, ao
tempo do mundo, transformando-o. Assim cumpre-se a obra confiada a Jesus, assim
temos o tempo certo da colheita (cf. Jo 4, 34-35). Com vida e sem pressa.
A vida não pára!...
A vida é tão rara!...
A música “Paciência” é de autoria de Lenine e Dudu Falcão (Copyright ©
Sociedad General DE Autores DE Espana S G A E, Universal Music Publishing Group)
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