NASCER DO CORAÇÃO
O
dicionário nos dá uma definição bastante precisa do significado da palavra esperança: “Disposição do espírito que induz a esperar que uma coisa se há de
realizar ou suceder”. Para que possamos esperar algo ou alguém, devemos
ter, portanto, uma disposição de espírito,
uma motivação interior que nos leve a
aguardar a chegada de uma realidade que há
de vir. Não é simplesmente uma atitude passiva de quem está ali por estar,
mas requer daquele que espera um desejo
que o dispõe a receber ansiosamente o que quer que venha ao seu encontro. Há um
anseio, um anelo que imperiosamente o motiva a estar pendente do que almeja. O
indivíduo que aguarda está disposto a
aguardar, pois sabe que o que virá tem um sabor especial que vale a pena o preço da espera. E ele
sabe em seu interior que seguramente virá o que ele anseia, por
uma certeza íntima que é, para ele, já o gosto antecipado da novidade almejada.
A esperança, como dom divino, é uma virtude fundamental para nós, pois é
motivada pelo Espírito para que aguardemos uma realidade que é sempre nova em
nossas vidas, uma realidade que é Pessoa. O Paráclito nos dispõe a esperar
exatamente porque nos dá a graça de acreditar que Aquele que está para vir
efetivamente virá. E o próprio ato de esperar já é, em si, uma alegria, porque
nos permite experimentar amorosamente os efeitos da Sua presença desejada em
nossos corações. Aqui reside, pois, a graça toda especial do tempo do Advento.
"A paciência prova a fidelidade
e a fidelidade, comprovada, produz a esperança. E a esperança não engana" (Rm 5, 4-5). São Paulo nos ensina que, para termos
esperança, necessitamos primeiramente cultivar as virtudes da paciência e da fidelidade. De fato, para esperarmos algo é preciso que tenhamos a
paciência para tal, e a paciência é provada no aprendizado difícil (e ao mesmo
tempo fecundo) que o tempo nos traz. Não é o nosso tempo – o tempo das nossas
escolhas pessoais, da nossa expectativa – que traz o que é necessário para nós,
mas é o tempo de Deus. É preciso que aguardemos n’Ele a realização plena
daquilo que Ele tem reservado para nós como caminho de felicidade, e não o que
nós ansiamos que aconteça. E tal paciência só é possível se confiarmos na
Palavra d’Aquele que virá, fiados em que
somente Ele tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6, 68). A fidelidade de
Deus, que nos garante plenamente o cumprimento de Suas promessas, é o que nos
dá segurança de esperarmos por Sua
vinda a nós na pessoa de Jesus. Para esperá-lo, devemos, em resposta, sermos fiéis ao que a divindade nos anuncia. Ao
sermos pacientes e fiéis, seremos verdadeira e alegremente esperançosos, posto que conscientes de que a esperança não engana.
Estas
paciência e fidelidade necessárias à plena experiência da esperança como dom
gratuito de Deus nós encontramos plenamente na pessoa de Maria. Ela, mais do
que ninguém, tinha em si aquela “disposição
do espírito” própria daqueles que “esperam
o que se há de realizar e suceder”, pois Deus lhe havia presenteado com uma
fé grandiosa e uma quantidade incalculável de outros dons infusos – ela havia encontrado graça diante de Deus (Lc 1,
30) – que a capacitavam a acolher jubilosamente o que d’Ele receberia. Acreditando
firmemente que “fiel é Deus” (1 Cor
1, 9) no cumprimento de Suas promessas, Maria caminhava segura e confiante na
Palavra do Pai. E esta segurança havida na fé foi o que possibilitou que esta
mesma Palavra pudesse, pelo anúncio do Anjo, se encarnar em seu seio. Cristo é
o Dom do Pai, dado na gratuidade de Seu amor misericordioso,
que vem para ser a alegria genuína e completa na vida da Virgem de Nazaré: "Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é
contigo" (Lc 1, 28). Deus não somente está em Maria, mas é nela
uma realidade viva, transbordante de
graças, sinal de fecundidade e de felicidade totais. Porque ela soube esperar fielmente n’Ele, o próprio Deus
veio fazer morada em seu ser e em sua vida.
Também nós, filhos de Maria, somos convidados a,
como ela, aguardarmos a vinda de Jesus
com paciência e confiança filiais. Com a sua mesma disposição, suscitada pelo
Espírito em seu coração expectante de Mãe, esperamos que Cristo venha e nasça
em nosso coração, certos de Sua vinda. Assim como ela, somos chamados a ser no
mundo portadores de Cristo,
portadores desta alegria que não passa e gera frutos de vida nova no coração dos homens. É dentro de nós que Jesus nasce de
novo para a salvação dos que nele
esperam, pois "o Senhor é bom para
quem nele confia, para a alma que o procura" (Lam 3, 25). Como Maria
(Lc 1, 38), aderindo aos planos de Deus ("Faça-se
em mim segundo a tua palavra") e estando dispostos a nos colocarmos a
Seu Serviço ("Eis aqui a serva do
Senhor"), permitimos que Jesus seja gerado em nós e nasça de nós para
o mundo necessitado da Sua presença. Somente a esperança na vinda de Jesus até nós é o que nos garante o Seu nascimento
em nós e o nosso renascimento n’Ele, hoje e sempre.
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